quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O adeus de “São Marcos”

Por Danielle Rosa

Em despedida oficial, Marcos se emocionou ao falar do pai
Fotos: Danielle Rosa
O dia estava cinzento, a chuva caía sem parar sobre a manhã nublada de São Paulo. Nesta quarta-feira, a notícia foi oficial. Todos os fotógrafos atentos e os jornalistas batendo a caneta ou as teclas do computador enquanto aguardavam o convidado do dia. Primeiro, quem chegou ao ginásio do Palmeiras foi a esposa Sônia e a filha Ana Júlia. Marcos entrou logo depois meio tímido, encabulado com todos os olhares voltados para dele.

Marcos finalmente apareceu em público, para jogadores, imprensa e amigos. E tudo isso para anunciar o fim da carreira como goleiro. Foi a primeira vez que o atleta falou sobre a decisão, falou também sobre o futuro e tudo o que vai ficar na lembrança.

Quem abriu a cerimônia foi o presidente alviverde, Arnaldo Tirone. E como se o nervosismo já não fosse o bastante ele lançou um “boa noite” bem no momento em que o relógio marcava lá pelas 11h45 da manhã desta quarta, 11 de janeiro.

E depois o discurso começou.

Marcos relembrou momentos históricos como a final da Libertadores de 99 e o pênalti cobrado pelo alvinegro Marcelinho Carioca, defendido pelo “São Marcos”. Pênalti que ficou guardado na memória do torcedor e também do goleiro, pênalti que eliminou o Corinthians na semifinal da Copa Libertadores da América de 2000.

E não parou por aí. Foram risos e lágrimas misturados ao adeus.

O eterno camisa 12 agradeceu, e muito, e brincou em sua última entrevista como goleiro do clube. “Camisa 1 no Palmeiras já tiveram vários melhores do que eu, mas camisa 12 eu fui um dos melhores”, cravou.

“A decisão veio mesmo nesse ano, quando eu vi que não conseguia mais entrar em forma. Fiz algumas partidas acima do peso e devido às dores no joelho eu não tive como entrar em forma”, revelou Marcos. As dores pelo corpo surgiram com os anos de profissional. As lesões foram surgindo no decorrer da carreira e fizeram com que Marcos aposentasse as luvas e as chuteiras mais cedo.

Outro motivo foi a família. “Eu não estou no álbum de família de ninguém”, disse olhando fixamente para a filha que sentava bem ao seu lado. Marcos contou que não viu os filhos crescerem, que não participou como gostaria desta história. Disse que sempre se dedicou ao Palmeiras e que agora era hora que se dedicar à esposa e aos filhos.

E chorou. As lágrimas vieram quando tentou falar sobre seu pai, já falecido. O goleiro jurou que não ia chorar no início da coletiva, mas não resistiu à emoção de relembrar seu grande ídolo. “O que ele mais me ensinou era preservar o nome. E acho que eu fiz isso aí. Quando meu pai estava doente eu não pude visitar ele porque tinha muito jogo, estava concentrado para um jogo contra o Santos. Meu pai está feliz. Espera aí um pouquinho que eu já vou responder”, disse com os olhos repletos de lágrimas.

Depois de alguns minutos, passou a relembrar e a agradecer o carinho dos torcedores e de todos que conviveram com ele durante os quase 20 anos de carreira.

“Eu sempre me identifiquei com a torcida porque me viam como um torcedor que defendia as cores do clube. Sempre fui o Marcos, sempre falei o que deu vontade e o que o coração mandava”.

O goleiro recebeu uma homenagem aos anos de Palmeiras. A camisa 12 deve ser eternizada como forma
de agradecimento do clube ao "São Marcos"


“Vendo as homenagens aí parece que eu morri. Jogador morre duas vezes, como dizem. Você chega em casa vê as roupas, a mala e fala ‘Meu Deus, acho que morri mesmo’. E eu sou duas pessoas, o Marcos pai e marido  e o Marcos atleta. E o atleta morreu mesmo”, complementou.

Marcos ainda não tem uma função pré-definida dentro do Palmeiras, mas em breve pretende anunciar seu novo cargo. Agora vai ficar um mês de férias com os familiares e depois volta ao Centro de Treinamento, mas desta vez não para treinar ao lado dos demais goleiros.

Falou sobre as boas recordações: “A maior alegria que eu tive foi uma bola que eu não peguei, que foi o chute do Zapatta, pra fora. Quando eu dei um pulo pra esquerda e eu vi a bola passando rente à trave eu não sabia o que eu fazia”.

E não esqueceu as partes ruins: “Deixar de jogar na Europa pra jogar na Série B foi o maior marketing sem querer da minha vida”. Falou ainda de quando defendeu a camisa da seleção brasileira, na conquista do pentacampeonato de 2002. “Eu não queria ir porque o Rogério e o Dida estavam voando, mas eu fui e acabei conquistando o título. E foi fantástico”.

“Você ser ídolo de uma torcida não tem preço, é muito maior. Eu já tomei um muito frango, fiz grandes defesas. Vou terminar minha carreira feliz”, finalizou.

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